.EDITORIAL.

Rev. Ang. de Ciênc. da Saúde. 2021 Jul – Dez; 2 (2): 1-3

ISSN (Online): 2789 - 2832 / ISSN (Print): 2789 - 2824  

Equipa Multidisciplinar de Profissionais de Saúde, Docentes e Investigadores Nacionais

 

 Os desafios da publicação científica no campo da saúde em Angola

The challenges of scientific publication in the health field in Angola

Hermenegildo Osvaldo Chitumba * 1 , Humberto Morais2

 

Palavras – Chave: Publicações; Ciência; Angola

Keywords: Publications; Science; Angola

 

1-     Faculdade de Medicina, Universidade José Eduardo dos Santos, Huambo, Angola. Orcid: 0000-0003-1905-137X

2-     Departamento de Cardiologia, Hospital Militar Principal/Instituto Superior, Luanda, Angola. Orcid: 0000-0002-1471-5408

* - Autor correspondente. Email: chitumba16@gmail.com

Doi: https://doi.org/10.54283/RACSaude.v2n2.2021.p1-3               

 

       Pode-se observar que ao longo da história da humanidade, a vida dos indivíduos e das sociedades foram transformadas pelos resultados da pesquisa.

       Nos países desenvolvidos são amplos os ganhos com a pesquisa científica do ponto de vista financeiro e contribuições elevadas no número de publicações 1.

       Objectivando examinar a produção científica global de artigos indexados à base de dados Scopus – Elsevier, do ano 1970 - 2016, Salmerón-Manzano e Manzano-Agugliaro2, concluíram que os países com maior produção científica global foram os Estados Unidos seguido pelo Reino Unido.

       Apesar de actualmente os Países Africanos constituírem o berço dos principais problemas de saúde, fundamentalmente do fórum infeccioso, o contributo destes para a produção científica global ainda é marcadamente insuficiente e com alguma limitação.

       Até 1996 a produção científica africana em termos globais não passava de 1.5%3. A base de dados AJOL (African Journals Online), até Fevereiro do ano de 2022 apontava a Nigéria, África do Sul, Etiopia, Kenya, Gana e Egipto, como sendo os países Africanos com maior número de revistas cientificas.

       África do Sul, Egipto e Nigéria compõem 60% do número total de artigos indexados na base de dados PubMed4.

       Nos últimos anos, em Angola, tem estado a crescer o número de investigadores que de uma forma tímida e com iniciativas isoladas vêm evidando esforços para alavancar a pesquisa e investigação clínica na área da saúde no país.

       Há 5 anos, era uma miragem falar de revistas científicas electrónicas. Actualmente o país está dando passos significativos, com o nascimento de revistas científicas em vários domínios do saber. Contudo, mais do que o aumento no número de revistas científicas que por sinal são de algum modo o maior mecanismo para a difusão rápida do conhecimento, torna-se imprescindível a capacitação dos profissionais envolvidos na produção do conhecimento.

       Ao analizarmos o número de artigos indexados à base de dados PubMed, usando como estratégia de busca avançada o termo Angola [Affiliation], ou seja, artigos que possuem pelo menos um autor contendo a palavra Angola na afiliação institucional entre o ano de 1800 - 2022, verificamos que o sistema a 04 de Fevereiro de 2022, retorna 614 artigos, dos quais 554 (89,8%) foram publicados nos últimos 10 anos (2012-2021). Observando-se assim, um aumento significativo de 9 artigos publicados em 2012 para 97 artigos publicados em 2021 (Fig. 1).

 

 

Figura 1 – Número de artigos indexados à base de dados PubMed no período de 2012 a 2021, usando como estratégia de busca o termo Angola[Affiliation]

 

       Corroborando os pronunciamentos encontrados no manual de Frascati5, para que os países em via de desenvolvimento dos quais Angola faz parte, deiam passos largos e positivos na direcção certa, torna-se necessário dar a devida atenção por parte dos decisores políticos e gestores, na capacitação dos recursos humanos e financeiros destinados a investigação científica, encontrando assim um método para a consecução dos objectivos preconizados.

        Este feito, terá como resultado a existência de uma massa crítica estável de docentes e investigadores que possam aferir com argúcia os principais problemas e lacunas no domínio das ciências médicas e da saúde, com o estabelecimento de prioridades na sua resolução.

        Nestes dois anos de existência da RACSaúde, foi possível constatar, por um lado, a existência de muita substância a nível das Universidades, Institutos e Centros de Investigação Científica, Centros de Saúde e Hospitais dos mais variados níveis, que devidamente encaminhada teria como resultado um impulso na produção científica nacional; por outro lado, constatamos que, ainda existe dificuldade no manejo de ferramentas tecnológicas e no domínio do método de investigação científica (por parte dos profissionais de saúde, docentes e investigadores), que são pressupostos  para produzir informação com rigor e qualidade aceitável.

        Uma das formas de colmatar, estas insuficiências é a criação de mecanismo de incentivo aos actores do campo da produção científica.

        Deve-se encarar a investigação científica não apenas como uma forma de gerar conhecimento novo para enriquecimento dos currículos, mas sim, como uma ferramenta necessária e imprescindível para o desenvolvimento, diversificação da economia, e uma forma de identificação de problemas que de algum modo requerem solução do ponto de vista da ciência.

         Acreditamos que a RACSaúde venha a ter no futuro um papel fundamental na difusão dos trabalhos científicos realizados nas nossas universidades, instituições de investigação e de saúde. Apelamos assim, aos interessados o envio de trabalhos para a nossa revista. A equipa editorial tudo fará, para que, o sistema “recepção – revisão por pares – aceitação e/ou rejeição dos artigos – publicação na revista” seja feita com celeridade, sem prejuízo na qualidade dos trabalhos publicados. Todos os pesquisadores docentes profissionais de saúde e não só estão convidados a dar vida a revista e participar da internacionalização, visibilidade e desenvolvimento da ciência em Angola e no Mundo.

        Agradecemos a todos os autores que consideraram a RACSaúde para tornar público os resultados de suas investigações nesta edição.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.   Anand NP, Hofman KJ, Glass RIJAM. The globalization of health research: harnessing the scientific diaspora. 2009;84(4):525-34. doi:https://doi.org/10.1097/ACM.0b013e31819b204d

2.   Salmerón-Manzano E, Manzano-Agugliaro FJP. Worldwide scientific production indexed by Scopus on Labour Relations. 2017;5(4):25. doi: https://doi.org/10.3390/publications5040025

3.   Confraria H, Godinho MMJS. The impact of African science: A bibliometric analysis. 2015;102(2):1241-68. doi: https://doi.org/10.1007/s11192-014-1463-8

4.   Uthman OA, Uthman MB. Geography of Africa biomedical publications: an analysis of 1996–2005 PubMed papers. 2008;8(2):1-11. doi:https://doi.org/10.1186/1476-072x-6-46

5.   Manual de Frascati. Guidelines for Collecting and Reporting Data on Research and Experimental Development. Paris: OCDE Publishing; 2015. 395 p.