Factores associados à insatisfação dos médicos dos hospitais de nível terciário em Luanda, Angola. Rev. Ang. de Ciênc. daSaúde. 2021 Jan – Jul; 2 (1):9-18

Por outro lado, verificámos que os médicos com mais de dez anos na actual unidade mostraram-sesignificativamente mais satisfeitos em relação aos seus colegas. A interpretação deste achado é complexa epoderia ser justificada, em parte, pelo facto de os médicos com mais tempo de trabalho numa determinadainstituição estarem acostumados com as condições de trabalho, mesmo que deficientes; e, possivelmente,sejam os que têm mais oportunidades de buscar as outras alternativas de colaboração em outras instituiçõespara melhorar a sua renda e, por isso, se tornarem alienados e habituados às deficiências no ambiente detrabalho, parecendo estarem satisfeitos.O presente estudo apresenta limitações inerentes ao seu carácter transversal, impossibilitando a inferênciade causalidade. Por outro lado, outros factores não avaliados neste estudo podem ter interferido na satisfaçãodos profissionais, tais como, por exemplo, o reconhecimento profissional, mudança salarial, relacionamentocom os colegas de trabalho e obrigações académicas, entre outros factores 5,27,28,45,46 , que exercem influênciasobre o grau de satisfação dos médicos. Finalmente, embora o estudo tenha avaliado os profissionais dasprincipais unidades sanitárias do país, o facto de ter sido realizado em amostra de conveniência, não permitea generalização para a população médica do país.

CONCLUSÃO Os resultados do presente estudo mostram uma elevada taxa de insatisfação profissional dos médicos quetrabalham nas principais unidades hospitalares de nível terciário do país.Os factores de insatisfação mais relatados são os atinentes a remuneração, horas de trabalho, disponibilidadede meios de diagnósticos adequados e a segurança pessoal. Com excepção do tempo de serviço ecolaboração em outro emprego, a insatisfação foi associada com as restantes variáveis da vida profissional enão com as variáveis demográficas dos médicos.Os resultados deste estudo sugerem a necessidade de uma maior atenção e ajuste de políticas que visama satisfação das componentes social e profissional dos médicos para manter a sua motivação para o trabalhoe a consequente melhoria da qualidade dos serviços prestados.

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RACSAÚDE – Revista Angolana de Ciências da Saúde. www.racsaude.com