Factores associados à insatisfação dos médicos dos hospitais de nível terciário em Luanda, Angola. Rev. Ang. de Ciênc. daSaúde. 2021 Jan – Jul; 2 (1):9-18

INTRODUÇÃO A satisfação profissional é definida como uma sensação subjectiva do indivíduo em relação ao seu trabalho,que consiste na diferença entre a quantidade de recompensas recebidas e a quantidade que acredita quedeveria receber 1,2 . Esta, pode exercer uma grande influência sobre o trabalhador, afectando não apenas a suasaúde física e mental, mas também atitudes, comportamento profissional, social e, ainda com repercussões,tanto para a vida pessoal e familiar do trabalhador, assim como para as organizações 3,4 .Ao contrário dos dados de estudos realizados na década de 90, os estudos mais recentes revelam existiruma correlação razoavelmente alta entre a satisfação e a qualidade de serviços de saúde prestados; contudo,esta correlação carece de mais investigações e aprofundamentos 5,6 Existe uma relação positiva da satisfação profissional com a qualidade de vida dos trabalhadores, assimcomo com a produtividade dos mesmos. Por essa razão tem sido encorajada a assunção da responsabilidadepor parte das organizações no sentido de proporcionar aos seus empregados trabalhos desafiantes erecompensadores, não só ao nível monetário, mas também ao nível do crescimento profissional 1,7 Em vários países, a satisfação dos profissionais de saúde tem sido apontada como uma das medidas daqualidade do sistema nacional de saúde e como principal pilar para o seu desenvolvimento 8 . Por outro lado,os médicos insatisfeitos são menos produtivos, pouco eficientes, e têm mais problemas de saúde, maiorprobabilidade de ausências laborais injustificadas e de sofrerem de mais problemas psicológicos, incluindo oSindrome de burnout 9,6 .Nas últimas décadas, têm havido um aumento crescente da proporção dos médicos insatisfeitos com o seutrabalho profissional e as consequências daí decorrentes têm merecido uma maior atenção em todo o mundo.A crescente proporção de profissionais médicos insatisfeitos com o próprio trabalho e as consequênciasdecorrentes dessa situação vêm recebendo muita atenção nas últimas décadas, a nível mundial 10 .Por exemplo, estudos realizados na Europa e na América têm revelado maior prevalência da depressão,ideias suicidas e da Síndrome de burnout nos profissionais médicos do que na população em geral. Essesestudos têm apontado, como principal causa a insatisfação profissional decorrente da sobrecarga laboral e oexcesso de trabalho 11 – 14 Outros estudos demonstraram que uma redução do grau de satisfação e do bem-estar dos médicos tem forte influência sobre a sua diligência, assim como no seu funcionamento cognitivo ena relação médico-paciente 15,16 .Sabe-se que a satisfação profissional é directamente proporcional à produtividade e, inversamente, aoabsentismo laboral e rotatividade de uma organização 17 . Por isso se considera que as motivações quedesencadeiam a saída do profissional médico de uma unidade de saúde, mesmo do Sistema Nacional deSaúde, estão intimamente vinculadas às condições gerais existentes para a realização de seu trabalho 18 . Nestesentido, tem sido indicado uma avaliação mais criteriosa da satisfação do médico com o seu trabalho emâmbito local, para identificar os factores determinantes e a sua gravidade, de modo a serem definidas melhoresestratégias de reversão dos mesmos 19 .A compreensão do fenómeno de insatisfação profissional dos médicos exige um entendimento profundodas causas de base, e deve incluir também os factores a montante, tais como a decisão da escolha do curso,o processo da formação, a escolha da especialidade e o exercício da actividade clínica 20,21 . Em geral,considera-se a satisfação profissional como o resultado da combinação entre os factores intrínsecos eextrínsecos. Os factores intrínsecos são os que se relacionam com o próprio profissional, como a suapreferência pelo tipo de trabalho que exerce; enquanto que os extrínsecos estão relacionados com ascondições de trabalho, a remuneração ou outros aspectos similares como motivação de trabalho.Em todo o mundo, o estudo da satisfação profissional dos médicos é importante para uma melhor gestãodos recursos humanos, em função da missão das instituições de assistência sanitária. Isso torna-se capital,sobretudo nos países Africanos onde é notável a carência de médicos em todas áreas, sendo que em algunspaíses essa carência é crítica. Por exemplo, em Angola existe aproximadamente um médico por cada 4000habitantes, um número muito abaixo em relação ao preconizado pela OMS (um médico por cada 1000habitantes), estando, ainda assim, a maioria concentrada em Luanda 22 – 24 .Apesar disso, são escassos os estudos sobre satisfação profissional dos médicos em África. Por outro lado,estudos prévios em diferentes países africanos identificaram baixo nível de satisfação nos profissionaismédicos, tendo como principais factores as condições de trabalho, a remuneração, o corpo administrativo e asegurança no local de trabalho 8,25 – 28 . Sendo que em Angola não existem dados de estudos divulgados sobreos factores associados à insatisfação profissional dos médicos, o objectivo da presente pesquisa é deidentificar os factores associados à insatisfação profissional em médicos que trabalham nas unidadeshospitalares de nível terciário do sector público, em Luanda, Angola.

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RACSAÚDE – Revista Angolana de Ciências da Saúde. www.racsaude.com