Factores associados à insatisfação dos médicos dos hospitais de nível terciário em Luanda, Angola. Rev. Ang. de Ciênc. daSaúde. 2021 Jan – Jul; 2 (1):9-18
MATERIAL E MÉTODOS Realizámos um estudo transversal que incluiu os médicos que trabalham em hospitais de nível terciário dosector público do Sistema Nacional de Saúde de Angola, situados na cidade de Luanda, Angola. A recolha dedados decorreu no período de Julho a Setembro de 2019 e o estudo foi aprovado pela Comissão Científica doDepartamento de Ciências Fisiológicas da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, emLuandaDe acordo com a Lei de Bases do Sistema Nacional de Saúde de Angola, o nível terciário é constituído porunidades sanitárias encarregues de prestar assistência diferenciada polivalente ou de especialidade àpopulação, e integra os sectores público e privado. O sector público inclui o Serviço Nacional de Saúde, osServiços de Saúde das Forças Armadas e do Ministério do Interior, assim como as unidades sanitárias deempresas públicas 29 . Com base na lei acima citada, as clínicas de empresas como Endiama, Multiperfil eSonangol também fazem parte do sector público, apesar de terem gestão privada 30 . Um aspeto importante éque, na sua maioria, os funcionários que trabalham no sector público são os mesmos que colaboram no sectorprivado.No presente estudo, incluímos apenas os dados dos médicos que trabalham nas principais instituições desaúde do nível terciário do sector público no país, sendo: (i) cinco hospitais pertencentes ao Serviço Nacionalde Saúde (Hospital Américo Boavida, Hospital Josina Machel, Hospital Pediátrico David Bernardino, HospitalPsiquiátrico de Luanda e Maternidade Lucrécia Paim); (ii) um hospital pertencente às Forças Armadas(Hospital Militar Principal de Luanda); (iii) três Clínicas de empresas públicas (Clínica Sagrada Esperança,Clínica Multiperfil e Clínica Girassol).Consideramos como unidades hospitalares do sector público aquelas tuteladas pelo Ministério da Saúde;foram consideradas como público-privadas os hospitais de empresas públicas que, apesar de pertencerem aosector publico, estão sob gestão de carácter privado. No total, estavam registados 581 médicos quetrabalhavam nas nove unidades hospitalares de terceiro nível. Endereçámos uma carta à direcção de cadaunidade hospitalar elegível para solicitar a autorização da participação dos seus funcionários no estudo; noentanto, apenas seis responsáveis responderam positivamente no prazo estipulado, nomeadamente: HospitalAmérico Boavida, Hospital Josina Machel, Hospital Pediátrico David Bernardino, Hospital Psiquiátrico deLuanda, Maternidade Lucrécia Paim e Clínica Sagrada Esperança. Foram convidados todos os médicos, sendoque 167 concordaram em responder ao questionário. Cada médico respondeu na instituição a que seencontrava vinculado em tempo integral. Cada participante assinou o termo de Consentimento livre eesclarecido antes do preenchimento do questionário.Os dados foram recolhidos por autopreenchimento de um questionário, adaptado dos utilizados em estudossimilares 8,15,31 , o qual inclui as variáveis demográficas, a caracterização profissional sob a forma de afirmaçõesrelacionadas com o grau de satisfação profissional. Realizámos um estudo-piloto com 10 médicos de duasinstituições hospitalares, para aferir a qualidade do questionário mediante o cálculo do coeficiente alfa deCronbach, para avaliar a consistência interna do questionário, e os valores variaram entre 0.53 e 0.78 (médiade 0.70), o que considerámos como aceitável.Não analisámos os questionários que continham menos de 70% de respostas. Assim, do total de 167questionários recebidos, excluímos três por erros de preenchimento, sendo que a amostra final ficouconstituída por 164 médicos.A satisfação profissional foi avaliada mediante a afirmação “estou satisfeito”, em relação a cada item devida profissional e que inclui: local de trabalho, especialidade, carga horária, meios de diagnóstico, segurançapessoal, liberdade de prescrição, remuneração e o desejo de escolha do mesmo curso. ue os inquiridosassinalassem o seu grau de concordância com as afirmações de satisfação em relação cada item acimamencionado utilizando a escala de Likert com cinco alternativas (1= discordo totalmente; 2= discordo; 3=concordo pouco; 4= concordo; 5= concordo plenamente).Para efeitos de análise, as alternativas de respostas da escala de Likert foram agrupadas em duascategorias e em função disso os participantes foram classificados como satisfeitos (respostas correspondentesa escala de Likert 4 e 5), e insatisfeitos (respostas correspondentes a escala Likert abaixo de 4). A satisfaçãoglobal foi definida como a atitude do profissional perante vários cenários propostos nas questões efetuadas efoi calculada a partir da média dos valores atribuídos.Tratámos e analisámos os dados por meio do software SPSS, versão 25.0, onde calculámos as médias edesvios-padrão para as variáveis quantitativas, e frequências absolutas e relativas, para as variáveisqualitativas. Utilizámos o teste de Qui-quadrado para determinar a associação entre a satisfação e as variáveis
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RACSAÚDE – Revista Angolana de Ciências da Saúde. www.racsaude.com