Factores associados à insatisfação dos médicos dos hospitais de nível terciário em Luanda, Angola. Rev. Ang. de Ciênc. da Saúde. 2021 Jan – Jul; 2 (1):9-18
VARIÁVEIS
Carga horária semanal (horas) ≤ 59 ≥ 60 Tempo de serviço (anos) ≤ 10 ≥11 Tempo de trabalho na actual unidade (anos) ≤ 10 ≥11
SATISFEITO Sim Não
73 (78.5%) 7 (9.9)
19 (14.4%) 8 (25%)
18 (13.6%) 9 (28.1%)
20 (21.5%) 64 (90.1%)
113 (85.6%) 24 (75%)
114 (86.4%) 23 (71.9%)
VALOR DE P
0.046
0.147
0.047
DISCUSSÃO Com o presente estudo, procurou-se determinar o nível de insatisfação profissional, e os resultadosrevelaram uma elevada proporção de profissionais insatisfeitos.O estudo envolveu uma amostra de conveniência constituída por profissionais das principais unidadeshospitalares do país sedeadas na cidade de Luanda. O perfil sociodemográfico dos participantes é semelhanteao que tem sido reportado em outros estudos, apontando um certo predomínio dos profissionais do sexofeminino 7,32,33 . Para alguns autores, o predomínio do sexo feminino na área de saúde surge com osmovimentos de feminização, que tendem a levar mudanças na relação da mulher com o trabalho 7 . Já a faixaetária reflecte o aumento de médicos jovens nos últimos anos, devido ao aumento da produção local originadopela criação de novas Faculdades de Medicina no país, o que tem aumentado o número de jovens médicos.Do nosso conhecimento, é o primeiro estudo realizado em Angola envolvendo os médicos de diferentesunidades sanitárias do nível terciário, avaliando os factores associados à insatisfação.Ao analisar a magnitude de satisfação global, foi notória uma elevada taxa de insatisfação e apenas 16.5%afirmaram estar satisfeitos (tabela 1), o que é muito mais baixo do que tem sido reportado em outrosestudos 31,34,28 . De facto, numerosos estudos têm revelado a importância da avaliação dos profissionaismédicos e vários factores têm-se mostrado associados à satisfação profissional dos médicos, tais como, porexemplo, as condições do local de trabalho 27 , a remuneração 34,35 e a relação com os colegas de trabalho 36 ,entre outros.Contudo, os resultados de diferentes estudos são controversos quanto aos factores associados à satisfaçãoprofissional. Alguns apontam a influência das características sociodemográficas, além de outros factores 18,37 ,enquanto outros não encontraram nenhuma relação entre essas variáveis e a satisfação profissional,apontando apenas as características profissionais e factores sociais 8,31,36 . Realce-se que nenhum estudoconseguiu avaliar em simultâneo todas as variáveis de todos os componentes da satisfação. Embora o nossoestudo não tenha incluído uma avaliação dos factores sociais, observámos que, do ponto de vista estatístico,a satisfação foi associada com factores profissionais, mas não com as características demográficas, indicandoque factores profissionais assumem um papel preponderante para a motivação e, por consequência, para obom desempenho profissional dos médicos. Isto é importante, pois estudos apontam que a insatisfaçãoprofissional tem grandes repercussões na vida do próprio profissional e em outros, como os pacientes,familiares, colegas de trabalho, inclusive nos estudantes de Medicina e jovens médicos, no caso dos hospitais-escolas 7,13,31 .Analisando as respostas a cada item do questionário sobre a satisfação dos médicos, houve maiorproporção de médicos que relataram a insatisfação com a remuneração, horas de trabalho, meios dediagnóstico adequados e a segurança pessoal (tabela 2). A segurança pessoal no local de trabalho tem sidoconsiderada como um factor fundamental para o desempenho das actividades, uma vez que é subjacente àprotecção do trabalhador contra os riscos da saúde, promovendo a redução ou a eliminação de acidentes eoutros eventos adversos no meio ambiente de trabalho 38 .Além das medidas de segurança pessoal, os meios disponíveis para fazer diagnósticos correctos ecompletos são necessários para o bom desempenho da actividade médica, com impacto na qualidade deserviço prestado e levar ou não ao stress do profissional. Por exemplo, existe a opinião de que as máscondições de trabalho podem causar stress nos médicos, podendo afectar, de forma negativa, a relaçãomédico-paciente e aumentar a sua insatisfação com o trabalho 7 .No entanto, nem sempre as más condições de trabalho são conhecidas pelos pacientes, seus familiares,assim como pelos órgãos de gestão hospitalar, que muitas vezes exigem a qualidade de serviço prestado,8
RACSAÚDE – Revista Angolana de Ciências da Saúde. www.racsaude.com